terça-feira, 16 de abril de 2013

A Banalidade da Ditadura Fonográfica



 Encontra-me em um Consultório Dentário do José Carlos – ainda assim que se expressa no interior -, na tarde desta terça-feira, à espera de ser atendido. E, como sou um cliente que tem horror a dentista, procurei logo me distrair com alguma leitura. E a primeira revista que peguei foi a “DeFato”, cujo diretor é o grande cara José Sanna, atleticano dos bons, da vizinha cidade de Itabira. Vasculhava a revista e cheguei à última página e lá um artigo que me chamou a atenção pelo bigode, ou melhor, o lead: “Gosto não se discute! Todavia, o que não podemos negar é que, nos dias atuais, é cada vez mais difícil ir a um bar ou restaurante e não nos depararmos com um menu musical pra lá de indigesto”. E o título: “A Ditadura Banal”, escrita pelo músico graduado pela UFOP professor na Unipac e regente de orquestras e coordenador de Violão na Escola Livre de Música, também em Itabira, Paulo Henrique Pinto Coelho. Ou seja, um expert na área. E já ao entrar no primeiro parágrafo, pensei em voz alta: - este cara joga no meu time.

Paulo Henrique descreveu com uma simplicidade e um formato que nos prende à leitura. Ele começa o texto relatando que cada época traz suas marcas e tendências, como a moda, os automóveis, as tecnologias. E entra na música e argumenta que “no caso da Música Popular Brasileira, entretanto, tenho, em alguns momentos, a sensação de estarmos andando na contramão da história. Chamo aqui de música popular, aquela que grande parte do povo brasileira escuta e admira; tocadas, incansavelmente, nas rádios, televisões e, conseqüentemente, em festas e manifestações populares”. E ai falamos a mesma língua, de que diariamente estamos sendo bombardeados com novos hits e o aparecimento de novos “ídolos” nacionais que,m da noite para o dia, passam a ser admirados por uma multidão de fãs. E assim, nos últimos anos, estamos sendo atormentados pela banalização de nossa música. E banalizar, como cita o músico, é tornar algo “estupidamente” comum, vulgar.

Continuando, ele fala do recente período em que se viveu a fase das “mulheres-fruta”, onde a musicalidade era somente a exposição dos corpos das dançarinas. E do estilo funk, que de forma alguma pode ser comparado ao estilo em sua originalidade. Hoje, o chamado “proibidão”, sempre com letras fazendo apologia ao uso de drogas e ao sexo liberado. Sem nenhum sentido que possa promover um entendimento cultural. Ah, e outra tecla que sempre ironizo e que o músico Paulo Henrique citou é sobre a banalidade do sertanejo universitário, que adentrou os lares brasileiros e que recebeu tal pecha por ter se iniciado com shows em bares e festas de universitários. Conquistou principalmente crianças e adolescentes que cantam as “pérolas” musicais como se fossem hinos. Do tipo “tchu, tchá-tchá”, “lerelê”, “berêberêberê”, “aiaiaiaiai”, tratando de assuntos irrelevantes como carros, traição e dor de corno. E o verdadeiro sertanejo, o de raiz, se perdeu? E as belas canções românticas sertanejas. Não tocam mais?

Outro tema abordado no artigo e que tem a minha concordância geral é sobre o tal do pagode. Pelo amor de Deus! No país onde o samba é seu maior patrimônio musical, consegue se tocar tanto nas rádios essas porcarias, tipo do refrão “ai,ai, ai, aiaiaiai, assim você mata o papai”... Em vez de se tocar Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Adoniran Barbosa, João Nogueira, Cartola, Demônios da Garoa, entre tantos outros. Assim a MPB morre a cada dia, quando nossas verdadeiras raízes sonoras são ouvidas. “A nossa identidade musical, conhecida e respeitada no mundo todo, vem sendo deixada de lado. Infelizmente, não se ensina nas escolas o que é um samba de verdade. Nem a bossa nova, o chorinho. Ao contrário, exercem sobre elas uma verdadeira ditadura musical, impondo aos pequenos ouvintes esse lixo sonoro”, diz  Paulo Henrique, Na verdade, estão negando às nossas crianças o direito de conhecer a verdadeira música de nossa terra.

Pois é, mas como foi bom ler este artigo e saber que há muitas cabeças que pensam como a gente. E principalmente por se tratar de um profissional da área, com muito mais sensibilidade musical que a minha.  E assim como ele frisou, gosto não se discute. Mas não podemos negar que a cada visita a um bar ou restaurante, nas ruas e nas emissoras de rádio, ouvimos músicas que nos provocam indigestão. Estamos passando por uma lavagem cerebral que tem sido feita junto aos ouvintes da música brasileira. Portanto, que tal pararmos para uma reflexão e não permitir que menosprezem a nossa inteligência, sentimentos e valores. 

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