Muitos de nossa geração
devem se lembrar da novela “Nino, o Italianinho”, escrita por Geraldo Vietri e Walter
Negrão, e apresentada em 1969 pela extinta TV Tupi, fazendo grande sucesso. O
Nino era um imigrante italiano e seu personagem foi interpretado pelo grande
ator Juca de Oliveira que, mesmo com as voltas da vida, está hoje no elenco da
novela das 18 horas, “Flor do Caribe”. Tinha meus dez anos de idade e tenho uma
boa memória sobre novelas que me marcaram na infância, como esta e “Sheik de
Agadir”, cujo protagonista foi o ator Henrique Martins e foi exibida entre os
anos de 1966 e 67, também pela Tupi. Pois bem, mas isto é história para outra
pauta.
Dentro desse contexto, o
nome “Nino” sempre foi familiar, integrado em minha vida desde meus tempos de
criança. E outro Nino se faria importante nessa história pela sua importância nos
causos de minha cidade, Era o Nino Prandini, de família numerosa e cujo pai,
Luiz Prandini, um saudense como se também fosse imigrante italiano, pela sua aparência, deixou sua obra em João Monlevade,
onde aqui aportou no início do século passado. E na tarde da última
terça-feira, 4, a nossa cidade perdeu esta grande pessoa, que ergueu aqui o seu
legado, principalmente na área de desportos e cultura. O cara, Nino Prandini,
cuja vida se voltou em torno de nossa terra e de nossa gente. Era um
monlevadense que amava muito a sua cidade e sabia de seus segredos.
Tão logo iniciei o
projeto do jornal “Morro do Geo”, em fevereiro de 2001, e cujo objetivo veio
para resgatar a história da cidade antiga, o Nino me procurou meses depois,
mostrando-se preocupado porque eu apresentava apenas a história da parte baixa
de Monlevade, ou seja, do Centro cuja história de vida e arquitetônica havia
sido destruída. Ele sempre me pedia para falar também de seu Carneirinhos, do
seu Real, do seu Flamenguinho e de sua ACM. Era curioso o seu apego pelo
passado do bairro onde nasceu e foi criado. Uma vez, ou melhor, por duas vezes,
Nino foi em meu apartamento – quando morava no Novo Horizonte -, para falar da
história de alguns bairros localizados na região de Carneirinhos e outra para
me emprestar um álbum de fotografias que marcava toda a sua trajetória
futebolística, quando atuou pelo Flamenguinho e pelo Real. E muitas destas
fotos foram publicadas em meu jornal.
Interessante, mas da primeira
vez, levou consigo um mapa que ele mesmo criou, e mostrava a localização de
alguns loteamentos que se transformaram em bairros, entre eles o Lucília, Nossa
Senhora da Conceição, São Geraldo, Lourdes, Alvorada e o Novo Horizonte. E de
cada um, Nino contava sua história. Com relação aos dois primeiros, ele me fez uma
revelação bombástica, onde confidenciou sobre a forma ilegal que a legítima
proprietária dos loteamentos – uma senhora viúva - foi literalmente passada
para trás, através de manobra executada por patriarca de uma família
tradicional da cidade. E a sua memória era fantástica, pois ele dava riquezas
de detalhes e mostrava, apontando o lápis sobre o mapa, mostrando cada ponto
que teria sido surrupiado. Em certos momentos, sua fala era em solidariedade à
viúva, pelo seu tom de voz, onde eu podia sentir a sua vontade de ter feito
alguma coisa em benefício daquela senhora. Era o lado justo do Nino Prandini,
uma marca de seu caráter..
Pois bem, mas deixo aqui
o meu abraço à sua família, familiares e amigos. Que ele descanse em paz e que
nós, monlevadenses, possamos tirar algumas lições de amor pela nossa terra
natal, mirando no exemplo do Nino. Aquele Nino que tenho na imagem, de cabelos
brancos e um rabo de cavalo amarrado, sua bolsa ao ombro, e sempre com um olhar
que via ao longe. E onde ele estiver, com certeza terá a companhia de outro
grande monlevadense e que também tanto legado deixou nesta cidade de Jean
Monlé, seu amigo aqui em nosso plano, o também saudoso Walter Lima. A ambos, a
nossa saudade!
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