sábado, 15 de junho de 2013

A História nos ensina

Logo após a última e mais famosa greve realizada na Usina de Monlevade em 1986, quando duas lideranças sindicais montaram barraca na aciaria da unidade e paralisaram por 23 dias a produção de aço, o então sétimo presidente da empresa, o engenheiro siderurgista austríaco Hans Schlacher, em palestra na Acimon (Associação Comercial de Monlevade), fez uma confidência a um dos empresários presentes: “O futuro da Usina de Monlevade é ser um grande laminador, porque é muito mais fácil de ser desligado e ligado novamente”. Ele se referia aos prejuízos causados pela greve daquele ano e as dificuldades de recolocar no ritmo normal toda a linha de produção que passa pelos altos-fornos, aciaria e, por fim, o laminador.

Schlacher e quase todos os líderes sindicais do embate capital x trabalho na Usina de Monlevade já morreram ou estão distantes da realidade atual do município, mas os problemas continuam. E a premonição do engenheiro, que iniciou sua carreira como chefe da unidade local e a encerrou como presidente do grupo no Brasil, se revelou: a Usina de Monlevade vai se transformando em usina maior de laminação.

RELAÇÕES ALTERADAS

Há meio século, antes da emancipação do distrito e sua transformação em município, era a então Belgo-Mineira quem “governava” João Monlevade. A empresa mantinha as escolas, o hospital, distribuía leite para os filhos dos empregados, trocava as lâmpadas queimadas nas casas, era proprietária da rádio e do jornal, mandava e desmandava, mantendo até um chefe de relações com comunidade que cumpria, inclusive, os papéis de disciplinador e juiz de paz.

Em trinta anos tudo mudou, com a empresa se afastando dos problemas comunitários e voltando sua visão central para a produção de aço.. Mesmo assim, duas décadas atrás todos na cidade sabiam quem era quem dentro da Usina de Monlevade e as relações da chefia eram muito mais próximas da comunidade. 
Hoje, o distanciamento é enorme, resultado das tantas mudanças no controle acionário da empresa, da globalização da concorrência, da centralização de suas decisões, das alternâncias comportamentais do mercado, da inoperância das representações políticas do município e, também, das marcas deixadas pelos históricos embates emprego x capital.

Os últimos anos foram marcados por um distanciamento ainda maior e, agora, quando pela primeira vez dirige a usina um profissional que passou toda sua infância na cidade, poucas lideranças o conhecem ou o identificam pelo nome.

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