sábado, 15 de junho de 2013

Comunidade Dividida

Há quase duas décadas, João Monlevade carece de lideranças políticas comprometidas com ações ligadas ao desenvolvimento econômico e social do município, o que vem provocando uma apatia generalizada na opinião pública quanto ao vai e vem das decisões sobre sua maior fonte de receita. Entre a paralisação da obra e o anúncio de sua retomada parcial, dois anos se passaram sem nenhuma atitude efetiva dos poderes públicos locais. Nenhum movimento, nenhuma manifestação nem neste e nem no governo anterior, ambos se limitando a reuniões fracas e inconsequentes, ação copiada pelos vereadores com a mesma falta de resultados.

A paralisia geral contaminou todas as lideranças e toda a representatividade da comunidade, com o assunto dormindo em berço esplêndido como se suas consequências não nos dissessem respeito. A única exceção foi o Sindicato que representa os trabalhadores da Usina, mesmo assim com sua natural visão de classe com foco em defesa do emprego.

João Monlevade completa 50 anos em 2014 e, três anos depois, comemora o bicentenário da chegada do pioneiro francês Jean Antoine Félix Dissandes de Monlevade à região, marco que nos permitiu o título de berço da siderurgia nacional. São dois séculos de história e cinquenta anos de município emancipado, mas o tempo passou sem que João Monlevade criasse alternativas econômicas que a libertasse da dependência crônica de sua usina de aço.


Na virada do último século, políticos locais apostaram na vocação educacional da cidade e investiram em ações políticas que garantiram a instalação de cursos superiores públicos, um de chancela federal e outro estadual, mas a falta de gestão e de continuidade retardaram seus avanços. Itabira, apenas a título de exemplo, avançou mais e se transformou no maior Pólo Educacional da região com o poder público municipal apostando e investindo em dois centros universitários que começam a criar expectativas de interferência e força na economia do município.  

Tanta apatia deixa a comunidade monlevadense dividida e esperando pra ver o que vai acontecer. A falta de lideranças no trato de questão tão importante para a economia e para o desenvolvimento social de João Monlevade facilita a sedimentação de uma massa indiferente e que contrasta com uma minoria ideológica radical que combate a empresa.

A LUTA TRABALHO x CAPITAL

O berço da siderurgia nacional se transformou ao longo do tempo num dos mais conhecidos laboratórios brasileiros sobre as relações entre capital e trabalho. Os embates começaram na era Lula, o líder sindical do ABC paulista e que se transformou no mais popular presidente da recente história brasileira. 

As ações do sindicalista Lula em São Paulo encontraram eco no Médio Piracicaba, onde surgiram lideranças sindicais que se destacaram, quase todos já mortos ou distantes de Monlevade e das atividades sindicais. Greves históricas aconteceram na Usina de Monlevade, o sindicalismo fortaleceu e recebeu o apoio da comunidade. Muitas conquistas foram duramente negociadas, enquanto centenas de operários perderam o emprego. A empresa deixou de ser controlada pelo capital Belgo da Arbed, passou por uma união com o capital espanhol que a transformou em Arcelor e, por fim, caiu nas mãos do indiano Lakshmi Mittal, hoje dono do segundo maior grupo siderúrgico do mundo, do qual a Usina de Monlevade representa pouco mais de 2% da produção total.

O resultado de toda essa história depende do ponto de vista de quem a viu ou vê. Independente das conquistas e dos interesses de um ou outro lado, o que se destaca ao longo de tantos embates é uma omissão conveniente, amedrontada ou omissa das lideranças políticas que representaram os interesses coletivos do município durante todo esse tempo.

Combater o emprego ou o capital é uma escolha fácil, mas apequena o compromisso maior pelos interesses de João Monlevade. A vila, o distrito e o município já pagaram caro por essa luta e a realidade hoje é outra bem diferente. É preciso diálogo, sem radicalismos ideológicos e sem os excessos do capitalismo, selvagem ou não. O grande problema é que para isso exige-se lideres. E nós não os temos.

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