O comunista João Saldanha no túnel e entre os militares
Há coisas que nem
nascidos éramos quando ocorreu, mas felizmente a imprensa e os livros estão ai
para contar. Ou mesmo uma professora numa sala de aula. A história é a senhora
da razão e recuperadora do tempo. Assim, apensar de apenas 11 anos naquele ano
de 1970, hoje me considero um conhecedor daquele passado.
João Saldanha,
botafoguense roxo e comunista assumido, além de jornalista e radialista
polêmico, sem papas na língua, Em 1968 foi o escolhido para dirigir a seleção “canarinha”,
assim chamada. E ele criou o jargão que ficou popularmente conhecido, “As Feras
do Saldanha”, referindo-se aos jogadores convocados. De grande visão, criou um
timaço e, contrariando os críticos e a tradicional formação tática dos times
naquela época, que jogavam no 4-2-4, com dois pontas abertos, ele radicalizou e
colocou num mesmo ataque Pelé e Tostão – ambos com as mesmas características -,
e Jairzinho e Rivelino pelas pontas, que não eram ponteiros natos. E um meio
com Clodoaldo e Gerson, improvisando Piazza na zaga, ao lado do durão Brito.
Mas um episódio mudaria
toda a trajetória do técnico que formou e deu personalidade ao selecionado.
Dario, o “Dadá Peito de Aço”, atacante do Galo, tinha a simpatia do presidente
Médici, que queria a sua convocação. Quando então Saldanha deu o recado: “ele
que convoque os seus ministros. Porque aqui eu convoco as minhas feras”. Foi o
estopim da bomba e a então CBD – Confederação Brasileira de Futebol -,
presidida por João Havelange, por ordem do presidente, demitiu o comunista e
foi contratado Mário Lobo Zagalo. A primeira medida do novo técnico: convocar
Dario. E Zagalo manteve o praticamente o mesmo time e o mesmo esquema tático do
seu antecessor João Saldanha.
Mas estava decretado o
que desejava o regime militar, ditatorial, onde dá circo ao povo, mas não
oferece a ele o pão e nem a dignidade. Quanto menos educação, melhor. Esses
governos não gostam de pessoas esclarecidas e politizadas. Preferem os que pode
ser manobradas mais facilmente, como o gado. E assim criou-se o estigma entre
um país maravilhoso movido por uma seleção que encantou o mundo. E um povo
feliz, entre todas as aspas possíveis.
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