Há quase duas décadas, João Monlevade carece de lideranças políticas
comprometidas com ações ligadas ao desenvolvimento econômico e social do
município, o que vem provocando uma apatia generalizada na opinião pública
quanto ao vai e vem das decisões sobre sua maior fonte de receita. Entre a
paralisação da obra e o anúncio de sua retomada parcial, dois anos se passaram
sem nenhuma atitude efetiva dos poderes públicos locais. Nenhum movimento,
nenhuma manifestação nem neste e nem no governo anterior, ambos se limitando a
reuniões fracas e inconsequentes, ação copiada pelos vereadores com a mesma
falta de resultados.
A paralisia geral contaminou todas as lideranças e toda a representatividade
da comunidade, com o assunto dormindo em berço esplêndido como se suas
consequências não nos dissessem respeito. A única exceção foi o Sindicato que
representa os trabalhadores da Usina, mesmo assim com sua natural visão de
classe com foco em defesa do emprego.
João Monlevade completa 50 anos em 2014 e, três anos depois, comemora o
bicentenário da chegada do pioneiro francês Jean Antoine Félix Dissandes de
Monlevade à região, marco que nos permitiu o título de berço da siderurgia
nacional. São dois séculos de história e cinquenta anos de município
emancipado, mas o tempo passou sem que João Monlevade criasse alternativas
econômicas que a libertasse da dependência crônica de sua usina de aço.
Na virada do último século, políticos locais apostaram na vocação
educacional da cidade e investiram em ações políticas que garantiram a
instalação de cursos superiores públicos, um de chancela federal e outro
estadual, mas a falta de gestão e de continuidade retardaram seus avanços.
Itabira, apenas a título de exemplo, avançou mais e se transformou no maior Pólo
Educacional da região com o poder público municipal apostando e investindo em
dois centros universitários que começam a criar expectativas de interferência e
força na economia do município.
Tanta apatia deixa a comunidade monlevadense dividida e esperando pra
ver o que vai acontecer. A falta de lideranças no trato de questão tão
importante para a economia e para o desenvolvimento social de João Monlevade
facilita a sedimentação de uma massa indiferente e que contrasta com uma
minoria ideológica radical que combate a empresa.
A LUTA TRABALHO x CAPITAL
O berço da siderurgia nacional se transformou ao longo do tempo num dos
mais conhecidos laboratórios brasileiros sobre as relações entre capital e
trabalho. Os embates começaram na era Lula, o líder sindical do ABC paulista e
que se transformou no mais popular presidente da recente história
brasileira.
As ações do sindicalista Lula em São Paulo encontraram eco no Médio
Piracicaba, onde surgiram lideranças sindicais que se destacaram, quase todos
já mortos ou distantes de Monlevade e das atividades sindicais. Greves
históricas aconteceram na Usina de Monlevade, o sindicalismo fortaleceu e
recebeu o apoio da comunidade. Muitas conquistas foram duramente negociadas,
enquanto centenas de operários perderam o emprego. A empresa deixou de ser
controlada pelo capital Belgo da Arbed, passou por uma união com o capital
espanhol que a transformou em Arcelor e, por fim, caiu nas mãos do indiano
Lakshmi Mittal, hoje dono do segundo maior grupo siderúrgico do mundo, do qual
a Usina de Monlevade representa pouco mais de 2% da produção total.
O resultado de toda essa história depende do ponto de vista de quem a
viu ou vê. Independente das conquistas e dos interesses de um ou outro lado, o
que se destaca ao longo de tantos embates é uma omissão conveniente,
amedrontada ou omissa das lideranças políticas que representaram os interesses
coletivos do município durante todo esse tempo.
Combater o emprego ou o capital é uma escolha fácil, mas apequena o
compromisso maior pelos interesses de João Monlevade. A vila, o distrito e o
município já pagaram caro por essa luta e a realidade hoje é outra bem
diferente. É preciso diálogo, sem radicalismos ideológicos e sem os excessos do
capitalismo, selvagem ou não. O grande problema é que para isso exige-se
lideres. E nós não os temos.
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